sábado, 5 de abril de 2008

A professora, a aluna e o telemóvel

Assente a poeira, vejamos calmamente, e de novo, o vídeo em que uma aluna disputa com a sua professora um telemóvel.
A aluna está irritada, o telemóvel é claramente um bem precioso para ela. É como um diário dos velhos tempos, o invólucro dos segredos próprios da juventude. Berra com a professora, sem educação, sem saber que aos mais velhos e, principalmente, a um professor se deve, acima de tudo, respeito.
Mais tarde a jovem reconheceu que tinha procedido de forma errada.
Mas, se a adolescente é patética, que dizer da professora? Esta, de cabeça perdida, luta com a aluna como se se tratasse de alguém da mesma idade e com os mesmos direitos. Na verdade, a professora está numa encruzilhada: não sabe o que fazer. Poderia chamar um contínuo e pedir-lhe que expulsasse a aluna? Poderia ter-se sentado de novo e esperado que a birra passasse?
A professora não tem autoridade. Pouco ou nada pode fazer. A sua atitude é desculpável por essa impossibilidade, essa impotência de actuar.
O resto da escola não existe. Os outros alunos - salvo dois ou três que no fim do filme, mais de um minuto depois da cena começar, parecem tentar acabar com a luta - riem-se e insultam a professora, 'a velha'. Ninguém acode à porta, apesar da berraria, o que indicia uma certa e infeliz normalidade dos guinchos.
Há 40 anos, se um professor quisesse retirar um objecto a um aluno, bastava pedi-lo. O aluno entregava-o. Não por medo de represálias do professor, mas pelo respeito que aquele lhe infundia. Por vezes, por medo que os pais soubessem que se tinha portado mal na escola.
Se não entregasse o objecto, seria posto na rua da turma; provavelmente suspenso por uns dias.
Este foi o sistema que destruímos a troco de nada.
O retrato que este pequeno vídeo faz das nossas escolas é, para mal dos nossos pecados, bastante real. Ao fim de mais de 30 anos de experiências, foi onde chegámos.
Que mais será necessário para perceber que fizemos tudo errado?
- Destruímos a autoridade dos professores;
- Minámos o respeito dos alunos pela escola e pelos seus símbolos;
- Aceitámos que as crianças eram naturalmente boas e queriam aprender;
- Facilitámos a aprendizagem para favorecer as estatísticas;
- Impedimos que os mal comportados fossem separados dos bem comportados, bem como recusámos distinguir entre os que têm e não têm aproveitamento;
Infelizmente, muitos eduqueses do Ministério acham que estamos no bom caminho. Mas basta um minuto para se ver como isso não passa de uma enorme mentira.
Henrique Monteiro in Expresso

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