Os sindicatos cantaram vitória, mas o entendimento entre Plataforma Sindical e Ministério da Educação sobre o regime de avaliação, a oficializar amanhã, ameaça a união do sector, até agora inquestionável após o êxito da Marcha da Indignação. Os dirigentes sindicais afinam o discurso. Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, classificou de "ataques" as críticas que desvalorizam o entendimento e garante que o apoio dos professores é "esmagador".
O presidente do Sindep, Carlos Chagas, para acalmar os ânimos numa secundária de Queluz, alertou que "o pior está para vir" os contratos individuais de trabalho. A Plataforma Sindical reúne hoje para um balanço do "Dia D", mas ontem Mário Nogueira já afastava o recurso à greve ou outros protestos. "Os professores vão manter-se em forte acção reivindicativa contra a política educativa", assegurou, porém, tendo 1 de Maio por horizonte.
Na Comissão Parlamentar de Educação, Maria de Lurdes Rodrigues insistiu que o Governo "só conjugou o verbo fazer". Não recuou, nem cedeu. A ex-responsável pela pasta, Ana Benavente, considera que foram os sindicatos a ceder a um "mau acordo", no que parece ter sido, aliás, a leitura de movimentos e professores críticos. Apesar de centenas de professores terem aprovado a moção que permite à Plataforma assinar o entendimento amanhã, são cada vez mais os docentes que criticam o documento por "legitimar o modelo de avaliação". Em Vila Real, tal como em Queluz, vários docentes votaram contra a moção e pronunciaram-se contra a assinatura do entendimento. E na Escola Secundária 2,3 da Clara de Resende, no Porto, 66 professores rejeitaram o protocolo e manifestaram-se "espantados" com o desbaratar, pela Plataforma Sindical, "do capital histórico de descontentamento" averbado na Marcha da Indignação.
"Vozes de burro não chegam ao céu, por isso esperemos que não escoiceiem perto de nós", ironizou Mário Nogueira. "Não somos nada se não tivermos os professores connosco", apelou o presidente do Sindep, face às críticas dos docentes no decurso de uma das 1300 reuniões que se realizaram ontem pelo país. Nelas os dirigentes sindicais tentaram "esclarecer" os professores dos "bastidores" do entendimento. No entanto, a palavra "acordo" nunca é mencionada porque as divergências de fundo, em relação à política educativa, se mantém. "A luta não acabou", isto é mais um episódio", ouviu-se por todo o país. O polémico entendimento prevê a avaliação simplificada e uniformizada para os sete mil professores contratados ou em vias de progressão que tinham de ser avaliados este ano lectivo - mediante a ficha de auto-avaliação, a assiduidade, o cumprimento do serviço atribuído e a participação em acções de formação. Os docentes com Regular ou Insuficiente neste primeiro ciclo de avaliações (até 2009) serão reavaliados no ano seguinte, não sofrendo penalizações pela primeira classificação. Para acalmar os ânimos, Carlos Chagas disse que os sindicatos estão preocupados com o "que está para vir" contratos individuais de trabalho.
O presidente do Sindep garantiu que a ideia de os docentes perderem o estatuto de funcionário público e terem vínculo directo à escola foi mencionada nas negociações sobre o ECD com a equipa ministerial. Reforma, garantiu, que o Governo gostaria de executar com alguma brevidade. "Talvez no próximo mandato".
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