Em entrevista a Margarida Marante, o histórico dirigente do PS afirma que se revê mal neste partido simplesmente porque é ‘socialista’ e o PS deixou de o ser. Adianta, no entanto, que não tenciona fazer uma cisão: «Se tivesse de a fazer, já tinha feito». Porém, acrescenta: «Mas na vida nunca se sabe».
Por que não se revê neste PS?
Como diria o meu amigo Piteira Santos, porque sou socialista ou porque me considero socialista. Quando digo que não me revejo no PS é uma expressão muito carregada. Há coisas em que me revejo e outras em que não.
Não se revê em quê?
Sou de outra geração. Sou de outra história, de outra memória. Do primado da política, do primado da ideologia. Hoje é a tecnocracia que predomina, o pragmatismo, a imagem. Isto é feito por ciclos e acho que este ciclo também vai passar. Claro que me agradam algumas medidas, como a interrupção voluntária da gravidez, a Lei da Paridade, a procriação medicamente assistida, a proposta de Lei do Divórcio, e reconheço que era necessário reduzir o défice para garantir o Estado Social.
E na Educação?
Não é possível fazer reformas sem os professores ou contra os professores. A maneira como se encarou uma manifestação de 100 mil professores não tem de facto que ver com a minha formação política. A democracia não é só o voto, também é a participação das pessoas. É preciso ver e pensar. E o diálogo também é uma virtude da democracia.
Por que não constituiu uma corrente dentro do partido?
Eu constitui. Fiz uma reunião há pouco tempo, com gente de todos os distritos, incluindo Madeira e Açores, e criou-se uma corrente de opinião que se chama Opinião Socialista. Teve como ponto de partida aquele núcleo de socialistas que, em cada distrito, me apoiou na candidatura presidencial. Agora, pode abrir a outros militantes e simpatizantes e outras pessoas fora do partido que queiram pensar os problemas da democracia, do socialismo, da esquerda em geral.
É o primeiro a dizer que há uma nomenclatura neste momento no PS e que é muito difícil mudar um partido por dentro…
Em qualquer partido é muito difícil. Mas acho que a vida também ensina que a opinião pública tem importância. E se os partidos não aprendem com a vida, a vida, depois, também muda os partidos. E houve várias experiências: houve a minha candidatura, fui um candidato contra o candidato oficial do partido, e obtive um milhão e tal de votos que perfazem 21%, enquanto o candidato oficial do partido teve 14,1%. E depois houve as eleições intercalares de Lisboa em que duas candidaturas independentes se bateram com os partidos. Neste momento há muitos movimentos espontâneos de cidadãos.
entrevista por Margarida Marante in SOL
Não se revê??? Então as votações na AR???
1 comentário:
Quem me dera que este Manuel fosse social-democrata, diz carlos gama!
Enviar um comentário